segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Vida Maria, o filme.


O curta Vida Maria, dirigido e produzido por Márcio Ramos, traz ao público uma animação digital em três dimensões de forma realística, nos foi passado em vídeo instrução da disciplina Psicologia Social durante o 9º Curso Superior de Polícia realizado pelo Centro de Estudos Superiores da PM-RN na Academia Milton Freire de Andrade em Natal.
A película em 3D mostra, de forma muito sutil e em animação bastante clara e evidente e de forma sucinta, uma história que se repete a  gerações e assim sendo, finda por ser tomada com naturalidade pelas gerações sertanejas que se sucedem.
As primeiras cenas remontam a rotina comum de uma pequena casa situada em pleno sertão do cearense, onde tudo se dá. O interessante são os planos de detalhe da película. Na mesma tomada, temos situações diferentes.  Na paisagem que caracteriza o filme, rodeada por cercas e montanhas, o céu, as nuvens dão um tom de tranqüilidade e de vida pacata. Lindo local que nos remonta a tenra idade quando ainda morávamos no sertão daquele Estado.
Maria José, “estrela do filme”, inicialmente aparenta ser  uma criança comum que dá seus primeiros passos na vida escolar e que como tantas outras, a deixam em virtude dos afazeres domésticos. Sua mãe, outra Maria também de duras feições, demonstra ter passado por situação semelhante ou até pior, tem traços de uma mulher sofrida por anos e mais anos de trabalho duro no sertão para alimentar suas crias ajudando os pais depois ao marido na labuta intensa do sertão.
Maria José, quando criança, por volta dos cinco anos de idade se divertia escrevendo seu nome e cantarolando repetidas vezes. Dá-se aí a idéia de que a criança começava seus primeiros passos na vida escolar. No filme, fica claro que a cena irá se perpetuar por gerações.
Por imposições de sua mãe, que na verdade, se traduzem em imposição da própria sociedade, quase que impedindo uma mudança de comportamento, todo o sonho de estudar e viver outra existência é suprimido bruscamente pela dura realidade da vida: trabalhar para sobreviver. Isto nos lembra muito o livro Vidas Secas de Graciliano Ramos e seus retirantes em busca de um lugar com melhores condições de sobrevivência.
O produtor da película apresenta o roteiro em um plano de detalhes fantástico. A cada cena que se completa, a menina Maria vai crescendo e “reproduzindo” a história cultural a qual se acostuma e naturaliza. Une-se matrimonialmente com um cidadão da mesma estirpe dela, trabalhador do sertão e com ele cria a prole e os filhos nascem na mesma situação. 
Os meninos seguem o caminho do pai, do trabalho duro no campo.  Assim vem Lourdes (filha de Maria José) que irá receber a mesma pressão social dada à mãe, a já sofrida Maria, antiga menininha sonhadora e feliz com o aprendizado das primeiras palavras.  Maria mãe agora envelhece e com o nascimento de Lourdes a lógica do sofrimento e dureza se repete, quase que imutáveis. Inicia-se uma nova situação onde ora Lourdes é que vai sentir na pela toda a carga cultural a sua volta.
O filme de indicação livre foi vencedor do 3º Prêmio Ceará de vídeo e traz à  luz uma dura realidade, principalmente nos longínquos municípios do Sertão Nordestino, onde crianças Marias, Josés, Antonios, Franciscos, Januários, Severinos, Fabianos e tantos outros,  precisam andar léguas para poder receber educação básica, e isso quando podem.
 Tantas outras padecem do analfabetismo crônico o no funcional que impedem o desenvolvimento do ser humano com mais dignidade, impelidos que são pela dura realidade social a sua volta.
            O que podemos ressaltar de toda a história é que certas situações, dadas como imutáveis e aceitas como naturais, não passam de construções da cultura e que são passadas dia após dia, geração para geração encobertas por uma ideologia que mascara a realidade.
Sabemos que isso pode ser mudado, pessoas de bom coração e outras instituições  podem ter este papel modificador. A própria família, querendo e tendo educação para isso, pode ser o principal agente construtor dos laços sociais educativos, haja vista que é o primeiro instituto onde o ser humano aprende as lições da vida.
Triste do Nordeste com os representantes políticos que ainda permitem que essa e outras situações de penúrias se perpetuem no tempo.

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