Sucesso
absoluto, aclamado pela crítica e público, o filme rendeu grandes lucros aos
seus produtores e atores chegando mesmo a desbancar produções
“hollywoodianas”. Tendo arrecadado mais de quarenta milhões de reais
desde sua estréia, Tropa de Elite II não pode ser olvidado ou
negligenciado pelo seu poder aglutinador de massas e pelo impacto que causa em
torno de um tema: segurança pública.
Pois é, dizem que é melhor até que o primeiro.
Todavia, eu, como policial que não participo da "tropa de elite" da
minha corporação cheguei a ficar triste porque a tônica do longa
metragem é afirmar que quem unicamente presta na policia são os
participantes do efetivo do Batalhão de Operações Especiais. Os outros 99,97%
do efetivo é todo composto de malfazejos, ou como se disse no primeiro filme: é
bandido ou se omite. Ora isto é uma pura inverdade.
É sabido que
o caos que se instalou nalguns setores da Polícia Militar do Rio de
Janeiro com a ascensão do tráfico de drogas e do jogo do bicho aliando-se a
isso a baixíssimos salários - ainda hoje este Estado da Federação é um dos que
pagam os piores salários aos seus policiais - e condutas desviantes por parte
de policiais de mau caráter contribuiram para a fabricação de uma imagem da PM
de um modo geral, a ponto de torná-la altamente negativizada.

É
evidente que há trabalhadores na segurança pública no próprio Rio de Janeiro
que são pais de família, honestos e dedicados ao serviço. Estes não entram em
grupos de extermínio ou milícias nem tampouco se corrompem e se vendem aos
traficantes. Pelo contrário, o PM no Rio de Janeiro, trabalhador e honesto, que
frise-se, é uma parte considerável, não trabalha na “tropa de elite”, assim
como em outros Estados da Federação; de forma oposta, labuta de sol a sol e,
muitas das vezes, não tem a devida proteção e reconhecimento. Como
trabalhadores honestos, diante de salários aviltantes para a função que
desempenham com toda a periculosidade, tentam complementar a renda com mais
trabalho digno, mas perigoso de segurança privada através dos bicos.
Essa
sim é a realidade da esmagadora maioria de trabalhadores no policiamento
ostensivo do Rio de Janeiro e também dos outros Estados e não essa imagem
que o filme tropa de elite tenta apregoar: policial bom é o policial do BOPE,
mas o resto não. E só com as forças especiais se resolvem os
problemas de segurança? claro que também não, porque tem um
efetivo limitado, por conta da função
específica que exercem, jamais sozinhas conseguiriam sequer resolver tais
problemas que são de ordem complexa e exigem esforços concentrados e
planejados.
Sempre
quis escrever sobre isso porque gosto também do filme, do Capitão Nascimento
“tocando o terror” nos morros cariocas em busca de justiça, todavia pouco se
viu esta personagem fazer incursões na zona sul do Rio, na Barra da Tijuca ou
em bairros nobres daquela cidade. Ele só atua nas favelas que concentra as
pessoas de mais baixa renda, segregadas, favelas estas que foram
legalizadas pelo próprio poder público e agora tentam "pacificar".
Não retiramos
o mérito das forças especiais, pelo contrário, elas são necessárias a uma instituição
pois são mais treinadas. São forças policiais concentradas e necessárias para
determinadas missões, todavia, a verdadeira tropa de elite da PM do Rio e de
outros Estados está nas ruas, no dia a dia com a comunidade, nas viaturas
atendendo aos chamados que hoje são aos borbotões, socorrendo a quem precise,
estendendo a mão amiga, nas praças e logradouros, nos cruzamentos, ordenando o
transito nas rodovias, nas funções administrativas e de saúde, na custódia e
escolta de pessoas presas, nos postos policiais isolados fazendo a segurança da
comunidade
Ao
final, entendemos que hoje, a tropa de elite da PM-RJ e também de todas as
polícias brasileiras é formada por cada policial digno, honesto que sai para
trabalhar em meio a toda essa violência urbana e não sabe se volta.
Mairton Dantas
Castelo Branco – Maj PM-RN
Um comentário:
Ótimo artigo.
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