quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pedra e vidraça



                        Há uma diferença significativa em ser (existir) entre estes dois materiais. Mas na lógica da pedra e da vidraça, o material que for menos resistente, com certeza sucumbirá. Como é bom ser pedra, pena que essa situação não perdura por tanto tempo porque a história é cíclica e o mundo dá voltas e um dia quem militou de pedra, agora está na condição de vidraça. E é ai que as coisas se complicam.
                        Em dois mil e dois por ocasião da greve da Polícia Militar de um determinado da Federação um então Deputado Federal, hoje fazendo às vezes de gestor do Estado, como bom militante da esquerda que é e que foi, acostumado a lutas e mais lutas “em prol” do povo, além de apoiar o movimento, participou intensamente das reivindicações, defendeu a categoria e ainda apoiou  a anistia para os policiais paredistas.
                        Hoje, na condição de chefia geral do Estado, por sua vez de vidraça, que se diga, tem se mostrou-se irredutível, falando sempre em tom ameaçatório e quem diria, o povo que mais pediu e concedeu anistia, negou-se a fazê-lo aos lideres do movimento, usando o discurso de que anistia para pessoas que “cometem crimes,” vejam o tipo de crime, desobedecer alguns preceitos, reivindicar direitos e melhorias nas condições de trabalho, era algo impraticável. Agora é vidraça, então, como sou material mais frágil que pedra, devo me proteger a todo custo dela.
                        Sabemos que de fato, aos Militares são proibidos a sindicalização e a greve, disso não há dúvidas, mas se formos olhar a violência que grassa nosso pais, principalmente a violência física, de sangue, regada principalmente pelo alto consumo de drogas, e as condições em que bravas mulheres e homens envergam as fardas em defesa do próximo, reivindicações deste porte, que diga-se de passagem, só estão neste nível em virtude de anos e anos de falta de diálogo, de reconhecimento e tratamento à mão de ferro porque tem passado todos os policiais militares brasileiros, são tentativas desesperadas de se mudarem as condições de vida e de trabalho.
                        Mas não precisava ser desta forma. Temos visto a olhos nus o desenvolvimento dos Estados brasileiros, bem como o do país como um todo, todavia, para as pessoas que fazem esse desenvolvimento acontecer como profissionais da educação, saúde e segurança, não participam ativamente do rateio do bolo. As riquezas estão sempre concentradas nas mãos de uns poucos privilegiados. E daqueles que também surripiam o erário público em todos os poderes constituídos, pois até parte do judiciário, sistema de freios e contrapesos do Estado, encontra-se envolta em negócios escusos, que envergonham todos os brasileiros.
                        A classe política nunca fala em greve, porque ela mesma tem o poder de quando bem entender, aumentar os salários para somas vultosas e bem na cara das pessoas que os elegeram. E ainda aumentar as vagas para políticos não fazerem nada, exceto locupletarem-se das riquezas produzidas pelos cidadãos. Os altos membros do poder judiciário e de outros órgãos assessores da justiça, para ver e fazer funcionar uma lógica tão perversa para os menores trabalhadores que estão na labuta cotidianamente de sol a sol, tem recebido altos salários e benefícios que as demais categorias não têm, e além de tudo, tem a mão protetora do Estado.
                        O que resta mesmo aos trabalhadores, a sua única forma de pressão a todo esse arrocho salarial a esta carga tributária estratosférica que não se reverte em investimentos reais para o povo e tão somente em obras e serviços assistencialistas, é a união, é a cobrança através de movimentos pacíficos e legítimos em busca das melhorias. Sabemos que os mandatários do poder e do ufanismo, todos os dias se locupletam com as benesses da riqueza altamente mal distribuída em nosso país.
                        E quem um dia foi pedra, dizendo e pregando tudo isso que trás este artigo, que lutou, que brigou contra a ditadura, cometendo até atos considerados criminosos como roubo, seqüestro e atentados, hoje virou vidraça, irredutível, nunca devendo se pensar em anistia para trabalhadores que cometeram alguns excessos, mesmo aqueles tendo recebido de braços abertos terroristas e assassinos de outras nações. Eis a diferença entre ser pedra e ser vidraça. O mundo dá voltas.

Mairton Dantas Castelo Branco – Maj PM-RN

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Militar Estadual - Estudante de Direito - Área da segurança pública.