sexta-feira, 4 de março de 2011

O monopólio da mediocridade


Companheirismo x Burocracia.

Por: João Xavier de Oliveira Filho


Foto: SINPEF/RN
Em 1972, um avião com 45 pessoas, dentre as quais atletas chilenos de rúgbi, despencou na Cordilheira dos Andes. Sem comunicação durante semanas, os sobreviventes viram o fim de suas provisões e um deles sugeriu uma solução bizarra para que todos não morressem. Sugeriu que, para viver e contar a história, se alimentassem dos corpos congelados dos companheiros falecidos no desastre aéreo.


Houve reações veementes. “Isto é um atentado às vítimas, é canibalismo”, disse um outro sobrevivente. O autor da idéia, um médico, explicou: “Não, você está enganado. A carne dos companheiros mortos a eles de nada serve. Servirá para que nós possamos viver e reverenciar o exemplo de todos. Isso, na verdade, chama-se companheirismo”. Assim foi feito, e 16 passageiros sobreviveram. Uma história que já rendeu documentário, livros e análises sobre a busca pela sobrevivência.

Companheirismo, nos dias atuais, é a chave de tudo. Nos Andes, ou do Oiapoque ao Chuí. O trabalho em equipe é a soma de virtudes distintas em favor da melhor solução. Na Polícia Federal, então, esta lógica é fundamental para que servidores e público interajam e convivam num ambiente saudável, harmônico, de forma que a prestação do serviço à sociedade produza resultados eficazes.

O maior inimigo do serviço público é a burocracia, uma parente bem próxima da mediocridade. Todavia, na Polícia Federal, essa máxima teria de ser diferente. Outro adversário “respeitável” da administração pública é a desunião entre os colegas de trabalho. Ela é fruto da insegurança, da prepotência e do despreparo de alguns que chegam com pouca experiência e se servem da função como um troféu da arrogância, não como um prêmio ou uma estrada para servir a quem os procura.

Felizmente, os burocratas formam uma exceção perniciosa, exibicionista e injusta. São pessoas que tratam com desdém o contribuinte, sem saber que são eles, os contribuintes, que pagam os salários do funcionalismo público. Assim, atrasam processos por bel-prazer, elegem a dificuldade como barganha ou como atestado de competência que, com eles, nunca conviverão.

Os burocratas também se acham donos de setores ou, no caso policial, de delegacias e não compartilham conhecimento para usufruir da própria insegurança. Ainda boicotam o colega mais experiente em algumas atividades, como se ele, o colega experiente, não houvesse caminhado pela mesma estrada, precípua, criando dificuldade para vender facilidade.

Este é o pensamento de um policial que atua há 25 anos na área, dita operacional, “sem da luta os embates temer” e que, a exemplo de tantos outros, emprega o suor e sangue por uma instituição. A instituição é a extensão da casa e a razão de viver. Se preocupa, pois, com o andar da carruagem, com aqueles que nunca trabalharam nos fins de semana e que nunca estiveram nos mais distantes rincões da Amazônia.

Estes sequer em pesadelos ralaram nas estradas da Região Centro-Oeste, ou nas fronteiras da Região Sul, nunca necessitaram do apoio de outras instituições policiais. Em poucos anos, efetuarão prisões via e-mail. E mais: caso não tenham GPS, jamais realizariam uma intimação. Vêm de grandes historiadores o alento e o combustível da resistência: “Está nos construtores da história a base da sua perpetuação”.

Lupicínio Rodrigues, conhecido sambista brasileiro, é autor de versos que se entrelaçam e resumem situações que se encaixam no exemplo do Departamento de Polícia Federal. Em uma de suas canções, ele afirma: “Há pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem  coração, mas não sei, se passando o que passo, talvez não lhes venha, qualquer reação.” Outra complementa o sentimento: “Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei, se eles julgam que há um lindo futuro, só o amor, nesta vida conduz”.

O burocrata é o atraso, não viveu o que aqueles, policiais experientes, passaram, doando suor, sangue, custeando suas próprias investigações e captando dados,  além das longas noites de campanas, longe das famílias. Vive, o bastardo da burocracia, com ares de empáfia, dentro de ambientes refrigerados e escondido na redoma de setores, por trás de montanhas de papéis.

Consagra-se – ou não? - a frase do personagem Deus, de Ariano Suassuna, na peça teatral “O Auto da Compadecida”, quando pede a Nossa Senhora a absolvição de um filho de Jesus Cristo. “Mãe, o céu não pode ser uma repartição pública, que existe, mas não funciona.”

Mas, sem falsa modéstia, muitos ainda não passam de inquilinos. Aqueles que trabalham arduamente e de maneira gratificante assentam cada tijolo. Não serão esquecidos, porque nem a força destrói a história.

“Somos fortes na linha avançada”. A verdadeira Polícia Federal do povo brasileiro.
 
 
*João Xavier de Oliveira Filho é Bacharel em Direito pela UFRN e Agente Especial de Polícia Federal, lotado na SR/DPF/RN
Fonte: Agência Fenapef

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