quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Dinheiro e jeitinho brasileiro

     Quando falam que a criatividade do brasileiro é maior que a dos outros habitantes do planeta, não o dizem apenas por dizer. Na verdade, o jeitinho brasileiro, ou melhor o bom jeitinho brasileiro é sempre bem vindo nos momentos em que se precisa sanar alguma situação de difícil resolução, e nesse sentido, esse jeitinho pode até ser considerado bom e positivo. O exemplo disso está na criatividade em conseguir meios legais de sobrevivência diante da disparidade social brasileira.
     Até aqui tudo bem, nada como a criatividade do povo deste país continental, dada as condições geográficas e miscigenação cultural. Há quem afirme que o brasileiro é povo mestiço, e assim, herdou toda essa característica de sabedoria nos mais amplos aspectos da vida cultural das diversas etnias que compõe a gente desta terra.
     O problema se nos apresenta quando este famoso jeitinho brasileiro, conhecido nesta aldeia global em virtude de sua complexidade, nos chega de repente e para safar pessoas de conduta reprovável perante toda a sociedade. Ultimamente presenciamos abismados a nova tecnologia em transporte de valores inventada pelo brasileiro, isto é, por brasileiro meliante. Cremos que as novas técnicas, se patenteadas, vão render muitas divisas para seus inventores, aliás, já tem rendido. A sociedade se aperfeiçoa e a cultura muda em consonância com o advento do novo. Primeiramente, fomos brindados com a técnica de transportar dinheiro nas cuecas, onde integrantes de partido político brasileiro foi pilhado com uma centena de dólares nas roupas íntimas.
     Agora há pouco tempo, fomos presenteados com uma grotesca cena ‘bigbrotheriana”, cômica se não trágica. O cidadão, presidente da câmara dos deputados distritais do Distrito Federal, vendo que os bolsos do paletó e das calças estavam estufados de dinheiro e não contente com a técnica do transporte nas cuecas, resolveu colocar os maços de cédulas de papel moeda nas meias. Nosso Deus, que jeitinho brasileiro mais sem vergonha. É esse tipo de artimanha que é condenável na prática quando falamos em jeitinho. Outros até oraram pela propina. Santo Deus.
     Mas, nem todos têm a coragem de fazer como fez um secretário de do governo com “g” minúsculo do Distrito Federal: gravar todos os atos de malversação e roubo de dinheiro dos contribuintes, já naturalmente assaltados com a carga tributária dos pais, em troca da famosa delação premiada. Nesta situação, o sujeito que entrega o esquema, goza de alguns benefícios em relação à sua condenação. Muitos se arrependem preferem tal status a continuarem na roubalheira.
     Agora, vem a pergunta crucial. E essas pessoas não vão presas? E por acaso a lei brasileira, de talião para quem rouba uma lata de margarina, não é surpreendentemente branda para quem comete crimes de colarinho branco? A resposta já se sabe, mas parece que a situação tende a mudar. Tramita proposta de endurecimento penal para este tipo de delito. Todavia se passada a lei, não é para o larápio ficar em salinha especial, não. É necessário mesmo que ele entre e enfrente as agruras de uma penitenciária estadual brasileira como quaisquer criminosos “pés de chinelo” que existem jogados aos milhares nas prisões. Servirá para quando pensar em se empanturrar de propina, pilhando o alheio e privando com isso milhões de pessoas de bons serviços de saúde, educação e segurança, arrependa-se até o último suspiro do crime cometido.
     Mas enquanto isso não sai, quantas pessoas não foram beneficiadas neste esquema de propina? E quantos “mensaleiros” travestidos de bom moço ou boa moça existem no Brasil afora? Até quando a sociedade vai se curvar diante de tamanho descalabro com a coisa pública sem exigir uma punição adequada. Noutros países, o Estado existe para servir o cidadão, mas no Brasil parece que o cidadão vive para servir o Estado. Daí o descaso com os serviços públicos e a desrespeitosa carga tributária imposta, isso para não falar nesta política excludente que beneficia alguns em detrimento da grande massa sofrida dos brasileiros e da classe que paga imposto.
     Que se cuidem os corruptos, pois o povo cansa de eleger para uma vida suntuosa e fausta aqueles que na vida pública, devolvem como paga a malversação de verbas estatais usando o mal jeitinho brasileiro para locupletação.

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