quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um próximo passado feliz.

     Chegando ao interior esbaldava-se deixando aflorar toda a sua meninice na mais tenra idade. Nadava no rio e corria pelas caatingas a perder de vista nas belas e doces paragens do famigerado sertão, cantado de forma ímpar por Oswaldo Lamartine, Euclides da Cunha e outros imortais escritores. Quando ainda meninote, a mãe o conduzia à rodoviária “nova”, inaugurada no inicio dos oitenta. Falava ela ao motorista e partia o garoto no pinga pinga da capital para o saudoso interior apreciando a viagem como se tivesse indo a um outro mundo, tamanha alegria e satisfação de chegar lá.
     Como eram diferentes os aspectos sócio culturais da cidade grande em relação às comunidades fraternas do interior. Morava na periferia da capital e, depois de chegar da aula, na escola pública, onde aos custos aprendera o “bê” “a” “bá”, participava com meninos da mesma idade da pelada no meio da rua ainda desprovida de calçamento e de outros confortos da vida moderna. Era uma vivencia maravilhosa que somente lembranças doutrora faz reviver.
     Um dia, inicio dos oitenta, chegou um pessoal do interior para assistir ao grande clássico do futebol da cidade. Os olhinhos logo brilharam quando pela primeira vez vislumbrou aquele gigante conhecido romanticamente como poema de concreto que hoje está para ir abaixo. Não sabia ainda por quem torcer, mas como a maioria dos que vieram para a cidade torciam por um certo time alvinegro, foi jogado de súbito no meio da multidão alegre e barulhenta. Momento impar vivido quando da explosão da massa na hora do gol, viva lembrança! Não existiam ainda as “torcidas organizadas” de hoje, freneticamente agitadas ao ponto da promoção gratuita da violência. Era só alegria. Famílias inteiras no estádio unidas em torno de um único ideal, ver seu time vencedor. Naquele saudoso dia não deu outra, o time alvinegro venceu e tomou de pronto o coração do moleque.
     Bons tempos aqueles em que os moradores da Natal viviam irmanadamente, mesmo não possuindo tanta tecnologia “hi tech” de hoje que ajudam e aproximam, mas de igual forma distanciam. Celulares “3G”, “Bluetooth”, “blueray”, “lcd”, fibra óptica, “wireless” e outras invenções do tipo de nomes difíceis nem se cogitava, vivia-se mais civilizatoriamente. Incrível fato fora que quando moleque, ainda chegou nossa personagem a tomar banho Rio das Quintas, vejam só. Hoje é só esgoto sem tratamento despejado no Potengi. Assim como em um distante dia um o riacho do Baldo fora antiga fonte de água da capital . O que está havendo com os valores de nossa sociedade?
     De volta ao interior, o rio e o açude complementavam a festa do dia a dia. As matinês, as caminhadas derredor da praça, as conversas, biloca e futebol faziam a alegria da garotada. Tudo isso aliado ao desejo de que aqueles ínfimos lapsos temporais, ainda não compreensíveis na totalidade, demorasse eternamente a acabar. Pescarias, ah quão saudáveis, melhor ainda era o banho pulando dos galhos das oiticicas na parte mais funda do rio. E o carnaval, quanta alegria, todo mundo fantasiado de “papangú”, cada um mais enfeitado do que o outro. Hoje o povo usa abadá que literalmente se traduz para o vernáculo em mortalha.
     Em épocas de campanhas políticas, era possível falar, tocar e se chegar a figuras hoje tão intocáveis da nossa vida pública. Há eternas saudades da campanha majoritária de 1982. O candidato da oposição andava de jipe e com raminhos verdes pelas ruas da periferia. O da situação, aparentando o novo e moderno, andava da mesma forma a cata de votos da população mais humilde. E Hoje, com a internet, tv Digital, “twitter” e mídias mil quem consegue chegar perto de um político senão o seu séquito? Figuras hoje quase abstratas e intocáveis, onde só ouvimos falar através dos pronunciamentos ou das denúncias de malversação de verbas públicas.
     Felizmente o que restam são lembranças de uma infância na mais pura inocência onde tudo parecia tão fácil, bonito e seguro mesmo diante das dificuldades da época. Naqueles idos a violência ainda não alcançara patamares semelhantes aos atuais e as famílias podiam tranquilamente conversar às suas portas até a madrugada sem medo de serem importunadas. Ainda encontraremos novamente tal patamar? Eis uma pergunta difícil de se responder mas cremos ainda possível, só depende de nós mesmos.

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Militar Estadual - Estudante de Direito - Área da segurança pública.