Eu não vendo ou troco o meu, e você? Fiquei estarrecido há alguns dias ao ler uma matéria jornalística datada de 15/06/2010 no Jornal de Hoje em que um político potiguar, jovem ainda e com pouco tempo de carreira na lide político-partidária, dar declarações de frustração com o que vem sendo o processo eleitoral no nosso Estado. Disse o político "ipsis litteris" a eleição virou uma negociação meramente financeira" e continuou: "estão falando de dinheiro de uma forma escancarada, afirmando que é para resolver questões pessoais" e disse que está impressionado com o nível da corrupção eleitoral constatada nos bastidores político-partidário do pleito que se avizinha.
Diga-se se não é para se indignar com um fato deste! Que há corrupção na política eleitoral no país, estamos cansados de saber, todavia quando um agente político vem a público afirmar este tipo de acontecimento, é porque nosso processo democrático está muito falho e carente de mudanças urgentes.
Ora, se um cidadão, eleito pelo povo para ser seu legítimo representante, vem a público mostrar sua indignação com a política eleitoral do Estado, é porque a sociedade civil organizada está dominada e andando a reboque do poder do dinheiro.
É uma salada só, ninguém respeita ninguém, os partidos e as coligações partidárias estão somente visando o interesse pessoal de seus filiados de mais peso assim como um séquito de apaniguados que está só esperando os louros da vitória para se refestelarem no poder. É muito dinheiro para se eleger um deputado estadual como afirmou este corajoso e jovem político. Como é que se pode gastar até dez milhões de reais para se eleger um representante do povo na assembléia legislativa se ao longo do mandato ele não receberá isso de salário? Que interesses escusos há por trás disso?
É mesmo angustiante saber em que quadro político nos encontramos em pleno estado democrático de direito. Nunca pensei que o quadro de corrupção iria assolar tanto o nosso país depois da instalação da constituição cidadã de 1988. Creio hoje que os precursores da redemocratização no Brasil, mesmo aqueles que já se foram, estariam ou estão todos muito decepcionados com a atual conjuntura política.
O que se vê hoje é pessoas dominando siglas estaduais. Quase todo grupo político é dono de uma empresa de comunicação de massa, isso principalmente no Nordeste. De posse desses meios de informação, passam todo o dia repercutindo fatos de interesse dos proprietários das empresas de comunicação, escondendo a realidade que passa bem diante dos nossos olhos e não conseguimos enxergar.
Já foi dito que os partidos no Brasil estão em crise. E esta crise deriva principalmente da vontade dos senhorios destes partidos, partidos estes que em tese, eram para ser independentes e se voltarem para as suas bandeiras de trabalho, mas o que se vê é que, ao contrário, estes entes políticos sequer alternam seus quadros, pois como são subjugados pelos mais fortes e mais ricos, fazem dele seu nicho eleitoral e impõe a sua vontade, transformando-os em simples instrumentos para a conquista do poder e suas infindáveis benesses.
É por isso que não vendo meu voto, ele é precioso e é minha única arma para combater os políticos de carteirinha que de dois em dois anos aparecem suplicando para que eu vote e dessa forma, para que eles se empanturrem, fortalecendo suas empresas e seus grupos nas burras do poder. Não troco também, pois é somente com ele, o voto consciente, que vou manter afastado de controlar a minha vida de forma casuística, pessoas que depois que adentram na carreira eleitoral enriquecem ainda mais, sem justa causa e do dia para a noite e para nós, eleitores, nada dão, além de esmolas esporádicas para justificar o seu ínfimo trabalho.
Felizmente, o próprio jovem político reconhece que nem todos usam destes artifícios para alcançarem o poder. Isto indica que podemos mudar a situação atual do nosso processo democrático. Como em quaisquer categorias profissionais, em política, há os bons e os maus, resta-nos, como se trata de um processo de livre escolha, selecionarmos os melhores para gerenciar nossas vidas. Cremos isso ser possível e somente depende de nós.
Mairton Dantas Castelo Branco – Major PM-RN
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