O poema vai cair. Vai cair porque a vontade das pessoas aliada aos interesses do capital não podem ser suplantadas. Isto se dá numa sociedade que não preserva sua memória, suas paisagens naturais e construções simbólicas e históricas. Padecemos da falta de respeito aos nossos antepassados e seguimos destruindo nosso patrimonio cultural. Veja-se o estado do bairro da Ribeira, um patrimonio da cidade de Natal agora esquecido, caindo pela falta de cuidados. Agora vem o nosso estádio. É uma pena. Com tanto atraso e com tantos locais disponíveis para a construção do novo sem se violar o passado, agora mais do que nunca virará pó e tenhho quase certeza, daqui a uns anos, sequer nos lembraremos do poema de concreto.
Tribuna do Norte
A foto do jornalista Waldemar Araújo, deixada para trás na mudança do estádio Machadão, que fecha as portas definitivamente, representa bem o último dia útil do velho estádio de Lagoa Nova. A imagem do ex-presidente da Associação Norte-Riograndense de Imprensa e ex-editor chefe da Tribuna do Norte, serve para alertar que, no dia em que o estádio completa 39 anos, o passado não pode ser desprezado, apesar da necessidade de transformações, representada pela futura construção da Arena das Dunas.
Divulgação
Em 1972, no dia de sua inauguração, o estádio Machadão recebeu lotação máxima, quando ainda não tinha cobertura no anel superior
Ontem, o barulho das torcidas alegres dos clubes de futebol, cedeu lugar aos passos apressados de funcionários de uma empresa de mudança, responsáveis por conduzir os últimos objetos aproveitáveis do mobiliário do Machadão. A Sejel Secretaria Municipal de Esportes Juventude e Lazer, que ocupava salas no estádio, foi a última a sair.
No entanto, ainda restam objetos a serem recolhidos. Toda a iluminação do Machadão, assim como as cadeiras das arquibancadas ainda vão ser retiradas. Se antes era dado como certo a utilização das luminárias no estádio Nazarenão, em Goianinha, onde o América vai mandar seus jogos na série C do Brasileiro, a prefeitura de Natal parece ter mudado de opinião e voltado atrás. De acordo com a assessoria da Sejel, a princípio elas serão utilizadas nas praças esportivas de Natal, assim como as cadeiras e os bancos.
Os corredores que antes serviam para conduzir os jogadores aos vestiários e ao campo, estavam vazios, esperando apenas a demolição. O campo, que já foi palco de espetáculos protagonizados por Alberi, Danilo Menezes, Didi Duarte e Souza, entre outras, não parece, nem de longe, um campo de futebol profissional. As cabines de rádio, que por quase quatro décadas serviu de abrigo para os radialistas e jornalistas, agora estão caladas.
Serviço continua
O serviço que começou ontem, deve continuar até a próxima segunda-feira. Depois, apenas os vigias continuarão no Machadão e só até o início das obras de demolição. A segurança do local deve ser reforçada pela ajuda da Polícia Militar e Guarda Municipal, em uma parceira entre o governo estadual e a administração municipal. Isso tudo para evitar que aconteça por lá, o que aconteceu durante uma década no Machadinho, que sofreu com os constantes assaltos nesses últimos anos.
O maior problema que a prefeitura de Natal vai enfrentar nos próximos meses é contra os donos de bares dentro do estádio. Por mais que os locais tenham sido cedidos do poder público aos proprietários, sem ônus para eles, os comerciantes estão estudando a possibilidade de pedir alguma compensação financeira a prefeitura de Natal para deixar o local, já que, a partir de agora, os bares não podem mais funcionar. A reclamação já foi passada para Rodrigo Cintra, secretário da Sejel, que entendeu o pedido dos donos de bares e prometeu ajudá-los.
A demolição do Machadão está prevista para começar no início do mês de julho. Se antes especulava-se que a Arena das Dunas iria ser erguida no local do atual estádio de Lagoa Nova, a dúvida foi desfeita. O Machadinho, ginásio que não é utilizado para jogos há tempos, é que vai ceder seu lugar para grande parte da nova praça esportiva de Natal.
No que diz respeito à forma de demolição, a empresa responsável pela obra definiu que o anel superior do estádio vai ser implodido, enquanto a parte inferior e menor será demolida de forma mecânica.
Machadão pôs um fim na era Juvenal Lamartine
Everaldo Lopes
Natal era uma cidade com pouco mais de 270 mil habitantes quando seu futebol trocou um acanhado campinho "Juvenal Lamartine" pelo bonito, moderno e grandioso estádio de Lagoa Nova. O nome Castelo Branco se deu, por decisão da Câmara Municipal, na ânsia de agradar aos líderes da "Revolução" de 64.
Na verdade, a ideia de presentear o futebol da capital com um novo estádio vinha desde o governo municipal ocupado por Djalma Maranhão. Como desportista que era, Djalma pesquisou vários locais aonde fosse possível construir a praça de esportes, mesmo sem ter o apoio de técnicos. Natal não tinha faculdade de engenharia, consequentemente, de arquitetos aqui forjados. O governador Silvio Pedroza, igualmente amante do esporte como Djalma, também se empenhou nesse sentido. Mas, o mérito coube a Agnelo Alves, aquele que deu a largada, empenhando-se, antes, para obter um local amplo, não fosse tão distante do centro, inconveniente para o torcedor.
O local foi encontrado: o bairro de Lagoa Nova, mas o terreno pertencia a uma empresa que detinha a concessão do fornecimento de água à população, propriedade do grupo Saturnino de Brito. Após várias viagens de emissários ao Rio de Janeiro, sede da empresa, foi obtido com a participação do então governador do estado, Dinarte Mariz a doação do terreno.
Construção foi iniciada em 1967
Superados os problemas técnicos, a construção foi iniciada em maio de 1967. O outro problema grave foi a falta de recursos da prefeitura, sendo necessário levantamento de empréstimos nos bancos locais, em nome pessoal do prefeito Agnelo Alves e do vice-prefeito, Ernani da Silveira. Enquanto isso, o escritório do arquiteto Moacyr Gomes ultimava a série de plantas. A equipe de engenheiros era chefiada por Hélio Varela de Albuquerque, contando ainda com Gilberto Cavalcanti, Luciano Barros, José Bartolomeu, Fernando Guerreiro, Roberto Siqueira, José Pereira da Silva, Geraldo Pinho e José Maria Fonseca, todos do RN, exceto Gilberto Cavalcanti, que veio da Bahia.
Nem tudo foi pacífico nos cinco anos de duração da obra. Agnelo Alves foi cassado. Do início da construção, até a inauguração em junho de 1972, passaram pela prefeitura os prefeitos Ubiratã Galvão e Jorge Ivan Cascudo Rodrigues, este o da inauguração. Ressalte-se a enorme colaboração do governador Cortez Pereira, ao assumir a responsabilidade de cobrir todo o anel da arquibancada. Antes de terminar seu governo, Cortez entregou o Machadão, completo, garantindo conforto ao torcedor. Nesses 39 anos do "poema de concreto" completados hoje, nem tudo foi futebol, shows, um suicídio, dois assassinatos, quedas da arquibancada, brigas, presenças da seleção Brasileira em 1982, da Rússia num amistoso contra o ABC em 1973 (2x2) e Mini Copa participando as seleções de Portugal, Eire, Equador e Chile. (EL)
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