Desde menino sempre ouvira falar de histórias de assombração nas plagas do sertão nordestino. Histórias essas que vieram nas bagagens dos colonizadores e se espalharam gradativamente pelos rincões sertanejos, do agreste e litoral, lugares maravilhosos das terras de Poty. No interior, em épocas remotas, quando dava dez horas, as luzes dos postes se apagavam. O velho gerador a diesel era desligado, então, nada mais a fazer senão dormir ao som do balanço das redes ou ouvindo histórias dos mais antigos e experientes, tipo tios mais velhos ou mesmo os mais concorridos, os avós. Quantas coisas boas na nossa infância.
Não tive a honra de conhecer meu avô materno que sei era um exímio escultor de peças úteis como pilões, objetos de uso para o lar como móveis e também de imagens de santos e outras peças que hoje, se divulgadas, poderiam o ter colocado no rol de artesãos de algum prestígio. Assim fôra o velho Sebastião Apolinário Dantas, avô ao qual Deus não permitiu a mim conhecer! Mas minha querida avó (in memorian) Justiniana de Medeiros Dantas me embalou muitas vezes com histórias do sertão, dos cabras de Lampião, Antonio Silvino e do nosso cangaceiro potiguar Jesuíno Brilhante. Acho que hoje ainda tenho amor a leitura, a literatura de cordel e demais contos do nordeste em parte aprendido com nossa saudosa avó materna que mal sabia assinar o nome, mas a memória, esta fora preservada.
Uma história que ouvi depois, já pelos idos da infância na periferia da capital fora a do tal Fogo do Batatão. O medo era grande, principalmente na hora de voltar para casa nas campinas do Dix-Sept-Rosado ainda em processo de povoamento.
Em Caiçara do Rio do Vento a história do batatão é comum entre as pessoas, principalmente entre as mais velhas que relatam terem visto tal fenômeno e dele tendo levado carreiras. Para algumas pessoas da cidade o famigerado Fogo do Batatão faz parte da cultura popular e já assombrou muita gente, principalmente os que ainda vagam pela noite escura como caçadores e trabalhadores campesinos.
Dando uma ligeira passada pelas pesquisas na rede mundial de computadores, mas com as devidas referencias encontramos que o Boitatá é um termo originário da nossa língua brasileira o Tupi-Guarani Mboi-tata. É o mesmo que Baitatá, Biatatá, Bitatá e Batatão, usado para designar, em todo o Brasil, o fenômeno do fogo fátuo e deste derivando algumas entidades míticas que assustam as pessoas. A lenda do Boitatá foi uma das primeiras registradas no país. Depois disso, derivaram outros contos fantásticos sempre ligados ao sobrenatural e que ainda perduram até hoje.
Uma causa científica para este mito pode ser explicada com uma reação química originada de ossos de animais em decomposição que são ricos em fósforo, que é um material inflamável, derivando o fogo-fátuo. Aglomerados em um lugar, o ossos começam a se decompor, e sobra apenas o fósforo. Quando um raio ou faísca, entra em contato com os ossos semi-decompostos causa uma enorme chama. Esse seria o que chamamos de Fogo do Batatão no Rio Grande do Norte e em especial em Caiçara do Rio do Vento. Muita gente já levou carreira do fogo-fátuo.
Tem um vídeo muito interessante, ano de produção 2009 que se encontra disponível no endereço eletrônico http://www.youtube.com/watch?v=a3cfJ6Yns38 que mostra como algumas pessoas enxergam o fenômeno e o transmite às demais. Bastante instrutivo porque retrata na visão de pessoas do povo da Cidade de Caiçara do Rio do Vento, sua própria opinião sobre o fenômeno do Fogo do Batatão.
Esta é a lenda do Batatão, Boitatá que foi uma das primeiras já registradas no país e que já amedrontou muitas pessoas. O que fica de tudo isso é a cultura cotidianamente construída, da produção popular da história que não deve perecer com a chegada do moderno. Aliás, ultimamente estamos na era do esquecimento do antigo, das tradições da cultura. O “mass media” chegou para ditar as normas do jogo. Ninguém se importa mais com a história das pessoas comuns do povo. O que rege hoje é o que acontece no eixo Rio-São Paulo que por sua vez seguem os ditames da big Apple dos Estados Unidos, Europa e países mais desenvolvidos doutros continentes. Um verdadeiro fenômeno de aculturação.
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