Repúdio a excessos contra imprensa
Publicação: 30 de Abril de 2010
A investigação da ação truculenta da polícia civil contra à imprensa e à população de Felipe Camarão, durante operação para capturar os suspeitos da morte do policial civil José Luciano de Oliveira, na última quarta-feira, dia 28, será acompanhada por diversos segmentos da sociedade. A seccional estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RN) e a Comissão dos Direitos Humanos propuseram, em seção realizada na tarde de ontem na sede da OAB, abertura de processo junto à Secretaria Estadual de Segurança Pública da Defesa Social (Sesed) e à Corregedoria-Geral de Polícia para apurar os excessos cometidos pelos agentes, além de uma moção de solidariedade à imprensa potiguar.
A equipe de jornalismo da Intertv Cabugi, que noticiava a busca policial no local, teve a câmera e as chaves do carro apreendidas, a pontapés e palavrões, por policiais que se negaram a devolver o equipamento. A câmera, que permaneceu ligada enquanto esteve em posse dos policiais, documentou toda a ação e registrou em áudio a ameaça feita aos moradores daquele bairro por um dos homens da civil: “os ‘vagabundo’ daqui ‘tudinho’(sic.) pode ficar sabendo aqui, um policial que morreu vai valer por 25 da vagabundagem”. A declaração veio à tona após a devolução do equipamento.
A conduta ao contrário de preservar a população, segundo o presidente da OAB/RN Paulo Eduardo Teixeira, foi para amedrontar, a partir da ameaça velada aos moradores durante a busca, como mostrou as reportagens veiculadas na imprensa. A violência e a intransigência configuram crime de abuso de poder e não uma ação institucional de combate à criminalidade, que deve obedecer a legislação. Quem tem o poder de investigar e penalizar criminosos, explica Teixeira, é o Estado e não a polícia. “Foi uma ação de revide intolerável e deve ser punida, sob o risco de voltarmos à lei do olho por olho”.
Esta inversão de papéis, “onde o responsável pela segurança da população a coloca em risco”, preocupa o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte, José Maria Bezerra. O advogado, que se diz solidário à família do policial, morto enquanto investigava o tráfico de drogas naquele bairro, ressalta que a polícia não pode estabelecer dentro do aparelho do Estado empreitadas de “vingança privada”.
O excesso também foi repudiado pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte, que em conjunto com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), emitiu uma nota de solidariedade, como também o pedido para que a Degepol se empenhe na preparação dos homens. “Os jornalistas trabalham na reprodução dos fatos e somente a população tem o direito de julgar a partir da apuração do que é noticiado”, disse Neli Carlos
Secretário pede desculpas por comportamento de agentes
O secretário estadual de Segurança Pública, desembargador aposentado Cristovam Praxedes, admitiu que houve excessos da Polícia na tentativa de cercear o trabalho de equipes de TV e da TRIBUNA DO NORTE, durante a cobertura da operação deflagrada para prender os acusados da morte do policial José Luciano de Oliveira.
Praxedes disse que já conversou com as direções das emissoras de TV e pediu desculpas pelo erros cometidos, “embora saibamos que eles estivessem com os nervos à flor da pele”, em virtude do assassinato de um colega “trabalhador e honesto e era o braço direito” do delegado de Narcóticos, Odilon Teodósio. “Esses excessos, evidentemente que são imperdoáveis, porque sempre tive em mente que a participação da imprensa é essencial para o nosso trabalho”, disse Praxedes, que também vai chamar para uma conversa a delegada que tentou abordar a mãe de um dos criminosos acusados da morte do policial, durante uma entrevista numa TV.
O secretário disse que a área de segurança pública não pode trabalhar sem a participação da imprensa: “Evidente que não vai se dizer à imprensa aquilo que vai se fazer, aliás, o segredo para uma operação é fundamental, senão não funciona”.
Segundo ele, a imprensa tem de ser respeitada, “porque é com ela que poderemos ser ou não ser valorizados, dependendo do nosso trabalho”. O delegado geral da Polícia Civil, Elias Nobre, informou ontem que o inquérito criminal sobre o assassinato do policial civil José Luciano de Oliveira será presidido pelo delegado adjunto de Homicídios, Marcos Vinícius, Quanto à morte de Paulo Aovelino da Silva, um dos acusados do assassinato do policial, o delegado informou que será instaurado outro inquérito, para o qual será nomeada como delegada especial, Sheila Freitas: “Foi lavrado um auto de resistência, onde o bandido foi morto, e a recomendação do MP que o próprio delegado que apura o outro homicídio não faça esse inquérito”.
Policial tenta intimidar equipe da TRIBUNA
Uma nova confusão entre imprensa e policiais civis foi registrada na manhã de ontem, atrapalhando o trabalho jornalístico da equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE.
A repórter fotográfica Elisa Elsie estava dentro do Itep quando um dos policiais civis que estavam escoltando o suspeito de matar o policial José Luciano de Oliveira afirmou que fotos de Rodolpho poderiam ser tiradas, desde que isso fosse feito do lado de fora do Instituto e sem identificar os agentes – visto que eles trabalham na inteligência da Polícia Civil.
Elisa Elsie fez como foi pedido. Registrou o momento em que o suspeito deixou o exame residuográfico e foi para o criminalístico, sem identificar qualquer policial civil.No entanto, quando Rodolpho terminou o exame criminalístico e saia em direção à viatura da Polícia Civil, acompanhado de outros agentes, outro policial civil – de nome não revelado – se mostrou bastante irritado com o trabalho da repórter e a acusou de “estar atrapalhando o trabalho da Polícia Civil”.
Elisa se defendeu afirmando que não estava identificando os policiais nas fotos, mesmo com o fato desse agente, o tempo inteiro, se posicionar entre Rodolpho e a câmera da repórter, tentando impedir que ela conseguisse focalizar o suspeito de homicídio. Na verdade, ele era quem estava prejudicando o trabalho da imprensa.
As acusações não pararam por aí. Depois de falar rapidamente com uma fotógrafa do Itep, o policial civil voltou a acusar Elisa Elsie e a imprensa, afirmando que ela estava colocando os policiais em risco. Em seguida, perguntou qual era o nome da repórter e onde ela trabalhava pois, caso saísse o rosto dele no jornal, iria atrás dela para tirar satisfações.
Os outros policiais civis que escoltavam Rodolpho não se manifestaram, inclusive, aquele que que pediu inicialmente para Elisa não identificá-los. Isso aconteceu porque ele, mostrando uma postura correta, colocou um capuz no rosto nos momentos em que estava em via pública, se resguardando ao direito de não ter a identidade dele revelada.
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