Dizem, a vida começa aos quarenta! Bom, será mesmo que há um fundo de verdade neste dito? Todavia, na minha humilde concepção, a minha começou já faz algum tempo, na verdade, creio que de fato, quando eu me entendi por gente por volta dos quatro ou cinco anos. Idade esta na qual começamos mesmo a nos aventurar pelo processo cultural que nos é imposto primeiramente pelos nossos, ou por quem nos conduz nos primeiros passos e depois, formalmente, pelas instituições da vida. Neste rol a escola, os grupos sociais de interesse, tipo amigos, trabalhos e assim vai.
Estamos chegando bem perto desta esperada era e olhando para trás vemos que tudo passou muito rápido. Por isso que dizemos que nossa vida começou mesmo lá pela infância, de menino da periferia, do subúrbio de Natal. Por falar em subúrbio, que é uma palavra não muito usada nos atuais, foi por ali que começamos nossa vida na Capital em tenra idade. Os amigos iniciais da velha 16, totalmente desprovida de condições básicas de saúde. Não havia calçamento, a coleta do lixo era precária, a lama corria pelas valas criadas pelos moradores. Ainda hoje pessoas sofrem por falta de saneamento básico, mas na 16, no beco do Titico, como era conhecida uma pequena rua, as condições eram mais severas ainda, mas havia fraternidade.
Correndo nas ruas enlameadas, brincando num grande terreno baldio que existia por trás na nossa casa alugada, com um enorme quintal, com goiabeiras lindas, bananeiras e cajueiro, grande local para tomar contato com o famigerado bicho de pé, mas esta é uma história a parte. Bom para nós crianças este quintal era enorme, nossos olhos ainda não enxergavam o mundo real, como o é depois da adolescência. Correndo por entre os matos e as carvoeiras que algumas pessoas faziam para desmatar o local. Aventuras mil.
Das coisas legais que existiam naquele bairro periférico eram o boi de reis de seu Manoel Marinheiro. Também em épocas de vaquejada no Parque Treze de Maio, ver os bois, os cavalos e os vaqueiros derrubando o boi na faixa. Dava muita pena dos coitadinhos, todavia, a tradição no Nordeste que se perpetua há várias gerações ainda se reproduz com muito sucesso.
Nestes idos tinham umas lendas que nos deixavam aterrorizados. Uma primeira que tomamos contato foi com a famosa perna cabeluda, uma farsa inventada em Recife-PE e que veio bater entre nós. Diziam que uma perna de um morto nas noites escuras aparecia para assombrar as pessoas. Confesso que o medo era grande e nos mantinha afastados das áreas baldias a noite. Também falava-se na mulher do algodão.
A Escola 9 de Julho, ainda hoje existe o prédio para contar a história nos facultou o segundo contato com o alfabeto. Muito embora não tenhamos conseguido desasnar neste grupo porque vínhamos de uma pré alfabetização no interior do Estado e com a mudança brusca de local de sobrevivência, as letras para entrarem foi uma tarefa muito árdua. Mas a escolinha 9 de Julho era muito legal. As salas eram divididas com compensados. Dava para ouvirmos o barulho dos outros alunos vizinhos. O melhor mesmo era a hora da merenda e do recreio. Muitas brincadeiras, e uma comida deliciosa. Fico imaginando porque que hoje em algumas escolas merenda para os alunos é algo muito difícil. Naqueles idos, mesmo com um Estado relativamente mais pobre, mas este requisito básico não faltava.
Lembramo-nos posteriormente que já na Escola Estadual Professor Luiz Soares onde finalmente aprendi ler com tia Nazaré e outras dedicadas professoras, entrávamos e toda a quinta cantávamos o hino nacional, o hino à bandeira e outras canções cívicas. Havia médicos dentistas na Escola e obrigatoriamente todos os alunos passavam pelo consultório. A biblioteca era muito boa e havia o incentivo à leitura.
Como dissemos, se a vida para uns começa aos 40, para mim ela começou já faz algum tempo e o que eu posso fazer é aproveitá-la com responsabilidade, senso de justiça e procurando fazer o melhor de mim para os meus e para o próximo. Chegar aos 40 com jovialidade, bom humor e uma saúde boa, é fundamental para galgarmos os 50, os 60, 70, 80 e até, quem sabe os 90. Para isso nos cuidamos todos os dias e pedimos a Deus proteção e paz, para que os momentos vividos na infância, na adolescência juventude e idade adulta, formem um conjunto para podermos levar, quem sabe para uma vida posterior, nossas experiências, boas ou más que adquirimos nesta vida!
3 comentários:
Valeu Castelo, cheguei a incorporar a 16 pela sua postagem.
Parabéns pelo orgulho e prazer que vc tem em lembrar de suas raízes, dando a importância que merece seu passado que sem dúvida é alicerce para seu presente-futuro.
Valeu Fafá...grande abraço... Meu Coronel
Valeu Fafá...grande abraço... Meu Coronel
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