quinta-feira, 21 de junho de 2012

Saudades da terrinha


De vez em quando bate um banzo daqueles! Lembranças da tenra idade, das peripécias da inocência vivida no interior. Dos joguinhos de bola nos campos de areia e barro batido, dos banhos de rio e açude ainda impolutos frente a ação humana; do andar na caatinga com o sol causticante, colhendo frutas em épocas como as dos cardos ou dos umbus, e, nas regiões serranas, os cajús.
A cidade grande para nós era um encanto que vivíamos apenas em sonhos. Lembro-me da primeira vez que cheguei à capital. Premio por uma traquinagem: fratura do braço depois de uma queda sofrida quando estávamos a passear em cima de um velho “Dodge”. Ainda idos de 77, vi grandes prédios, muitas luzes e faróis. Todavia a Capital ainda ostentava um aspecto de cidade em desenvolvimento, sem muitos carros, com bons espaços nas ruas, onde circulavam mais amigavelmente motoristas e pedestres. Mas mesmo com todo o deslumbramento, nada era ou é igual ao rincão ao qual nos filiamos.
O Seridó potiguar é uma belezura sem igual, mesmo hoje com todo o processo de desertificação acelerado, fruto do descaso dos governos e mais governos, da falta de medidas efetivas para com os efeitos das estiagens e também da necessidade premente da sobrevivência do povo sertanejo, que usufrui dos ricos recursos propiciados pelo bioma da caatinga, vegetação predominante do sertão potiguar sem a sabença do chamado desenvolvimento sustentável. O sertão é lindo!
Quando das épocas das cheias, de bons invernos, não tem como não se encantar com as sangrias das barragens e dos açudes. Vira uma atração a parte que traz de volta pessoas que se distanciaram da terra e também aquelas que apreciam uma linda paisagem natural. Nestes períodos as festas regionais são mais fortes, marcantes. As cidades celebram seus patrocínios religiosos e profanos mais intensamente. São assim as Festas de Santana em Currais Novos e em Caicó, bem como a Festa de Nossa Senhora da Guia, da cidade mais limpa do Brasil: Acari. Vem gente de todo o Brasil para apreciar tão aconchegantes e calorosas comemorações.
É por isso tudo e muito mais que de vez em quando bate uma saudade da terrinha querida, daquela cidade que nós viu nascer e nos acolheu e depois, por vontade do destino, nos viu partir para voltar a cada ano com mais vontade, mais amor.
Mais o interior não é somente isso: cidades pequenas são exemplos de civilidade, amizade e confiança mútua. É muito fácil encontrar o alcaide mor da cidade na feira livre, tirar um dedinho de prosa, cobrar uma política aqui, outra acolar; bem como ser recebido pelo magistrado local, pessoa mais simples do que os togados da Capital; é possível também fazer amizades e ser chamado de Mairton, de Fátima, José de Antonio, ou Maria de Tomáz. É possível ainda, mesmo com a chegada das drogas por imposição de um comércio torpe, ilegal e destrutivo, dormir com as portas e janelas abertas, pois conheço o meu vizinho e este me conhece. Faltou um pouquinho de açúcar? Menino, vai lá na comadre e pede um naco emprestado, depois devolvemos e assim segue a pacata vida interiorana.
Talvez esteja sendo um tanto idílico e a realidade seja outra, mas só em chegar no Seridó potiguar e passar por estas cidades maravilhosas, lembro da minha infância, que mesmo na dificuldade e na pobreza, sempre houve dignidade e fartura. Nunca ficamos sem uma refeição diária, fato que infelizmente se concretizaria na chegada na Capital, alguns anos depois que com muita luta e perseverança dos pais, com muito suor e trabalho, nunca mais aconteceu.
Mas o interior é assim mesmo. Não somente podemos ver essa solidariedade, essa pacificidade e gentiliza no Seridó, mas em todas as cidades de pequeno porte do interior norteriograndense. As pessoas são boas, receptivas e caridosas. Dispostas a ajudar quem quer que mais precise. Nunca vi minhas tias, minha avó e meus parentes dizerem um não a um cidadão mais carente quando este batia à porta. Nunca vi nenhuma destas pessoas negar um copo de água ou um prato de comida a quem quer que fosse.
É por isso e muito mais que sinto saudades da terrinha, da qual nasci, vivi poucos anos e depois parti. Por isso que quando posso, fujo das incivilidades da cidade grande e volto  para  meu amado Seridó.

Mairton Dantas Castelo Branco – maj PMRN

Imagem: Currais Novos-RN: web: Mazilton Galvão

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog

Gestão do Blog

Minha foto
Militar Estadual - Estudante de Direito - Área da segurança pública.