segunda-feira, 25 de julho de 2011

Contos Perdidos II


Por volta das cinco da manhã, não soube precisamente, acordou com a luz forte do sol batendo em seu rosto. Olhou para os lados do apartamento mas nada viu que pudesse lhe interessar. A estas alturas, pouco lhe poderia ser útil. Sorveu um dos últimos goles de água do cantil e desceu em busca do precioso liquido.
Andou pela manhã dirigindo-se ao cais do porto. Nele, restos de embarcações ancoradas que outrora deixavam produtos e levavam outros para países distantes. Por curiosidade, resolveu entrar a bordo de um desses navios que em parte se encontrava naufragados no próprio porto. Uma visão sempre aterradora o acompanhava, corpos já decompostos na embarcação.
Há algum tempo, ouvira falar que havia ainda uns sobreviventes que se agruparam em fortalezas em serras distantes da cidade grande. Por mais das vezes já pensara em se aventurar nesta longa jornada, todavia, um desânimo quase que mortal tomava conta dele. Lá, ouvira falar, as pessoas estavam sobrevivendo na mais simples organização social do trabalho, onde todos participavam de alguma forma do labor para a sobrevivência do grupo.  
Subiu a bordo da embarcação e se dirigiu à cabine de comando que estava parcialmente queimada. Livros sobre a mesa, cartas de navegação ainda podiam ser observadas no comando. Nada útil, exceto uma lanterna que por milagre, ainda funcionava.
Desceu da ponte e andou pelo navio. Adentrou novamente pelas portas que levavam ao alojamento dos demais membros da tripulação. No compartimento dos tripulantes homens, milagrosamente viu uma espécie de geladeira pequena e ao abri-la, surpresa, três garrafinhas de água  ainda lacradas. Olhou para o alto e deu graças. Observou o prazo de validade, ainda estava bom, muito embora o cheiro que exalava de dentro da geladeira não fosse nada agradável, todavia aquela descoberta, se usada com parcimônia, poderia lhe ser útil por mais quatro ou cinco dias. Um tom de sorriso lhe saia da boca. Em meio a toda essa destruição em massa ainda pode encontrar um naco de esperança que lhe dava pelo menos algum tempo de sobrevivência.
Continuou a busca. Agora precisava ele de algum alimento, pois a sua ultima refeição tinha se dado ao meio dia do dia anterior e depois de vinte e quatro horas, sentia-se exausto e com muita fome. Saiu do alojamento, percorreu as demais dependências da embarcação mas nada havia. Desalentado doravante e abatido pela fome, desceu da embarcação seguiu pelo cais do porto em direção centro da cidade, talvez lá houvesse algo para degustar.
Cruzou o centro desalentado e procurou abrigo do sol escaldante na sombra de um antigo viaduto existente há anos na cidade e que por milagre, continuava intacto depois do advento do caos. Incrível, pensou ele. Aquele riacho, ora morto, já fora o local onde os moradores retiravam água de beber. Agora só via um leito de rio que exalava um cheiro fétido e nada que aspirasse confiança saia daquelas águas turvas. Quem sabe um dia a mãe natureza não se encarregava de reorganizá-lo, dando lhe a preciosa vida ora desperdiçada.
Olhou para o céu, meio dia, a fome o castigava. Viu que havia uma árvore frondosa há alguns metros riacho abaixo. Pensou consigo: talvez haja algo para mastigar por ali. Decididamente, resolveu dar mais uns passos em direção a árvore. Notou que abaixo de sua copa tinha uns frutos já secos, com o caroço aparecendo. Lembrou de sua infância. Percebeu que se tratava de castanholas! Rapidamente assentou sobre o meio fio e recolheu uma dúzia delas e com uma pedra de fogo começou a quebrar. Que maravilha. Sua primeira refeição no dia. Amêndoas de castanhola. Uma delícia e com valor nutritivo excelente.
Depois de uma frugal refeição, juntou mais algumas e colocou em seu bornal e aproveitou um rico sofá, outrora usado por moradores de rua para estirar o corpo embaixo daquela árvore da providencia. Como sempre, agradeceu a Deus Pai por esta providencial refeição e dormiu, já sonhando com uma longa jornada às terras distantes onde poderia haver sobreviventes.

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Militar Estadual - Estudante de Direito - Área da segurança pública.