Segunda feira, dia onze de janeiro de dois mil e dez, estava na casa de minha mãe lá no Pajuçara II a conversar com um amigo, após filar a bóia como um bom filho que sempre à casa torna. Escorado na parede como estava, com o braço fazendo um apoio, de repente, por volta das 12:55h sente-se um abalo. A principio pensamos que fosse algo diferente, mas de logo veio a realidade. A terra estava tremendo. Era um abalo do tipo dos que ocorreram no ano de 1985, onde em virtude de ter sido em maior escala, as pessoas ficaram mais temerosas e uns inclusive diziam que próximo estava o fim do mundo e ninguém sorriu que eu lembre.
Pois bem, em momentos seguintes os telefones não mais pararam, era notícia chegando a cada minuto. Quando voltei ao trabalho percebi que todos comentavam o acontecido, cada um contando a sua maneira o que tinha sentido. No momento em que liguei o computador e visualizei o sitio do “tuiter”, de relacionamento na internet, pude perceber que as pessoas estavam levando o fato na brincadeira, não conseguindo enxergar a magnitude o acontecimento.
Nos noticiários das emissoras locais as pessoas sorriam como se estivessem se divertindo com o inusitado. Um colunista até escreveu, até que enfim, algo diferente no RN, como se aquilo fosse algo bom. No “tuiter” os mais brincalhões escreviam as coisas mais engraçadas. “Natal acaba de pedir sua atenção”, em referencia ao recurso em um dos bate papo da internet, quando o internauta chama a atenção do outro fazendo que o computador vibre.
É o se divertir com o que poderia ser uma catástrofe. Um dia depois, vem a noticia da tragédia no Haiti. Aproximadamente cem mil mortos não se sabe ao certo e entre eles, aproximadamente duas dezenas de brasileiros que deixam famílias tristes e desamparadas. Todos ficamos muito consternados. E ai surge a questão. Isso também poderia ter acontecido por aqui. Infelizmente é a realidade e não poderíamos estar brincando com o fato. A cidade de Porto Príncipe foi totalmente aniquilada pelo terremoto. A ajuda internacional chega a todo momento. O país ficou em desamparo, não há hospitais; a policia foi desestruturada e há histórico de violência crescente no entre os sobreviventes. O estado de necessidade, a fome e o desespero fazem com que as pessoas, na ânsia de sobreviver, percam o sentido da moral e retornem a um estado de natureza, como dizia Rousseau e outros contratualistas.
Então, naquele país ninguém mais está sorrindo. Isso somente acontece quando as heroínas e heróis de verdade, conseguem ainda resgatar as pessoas dos escombros. O Haiti sempre foi um pais que viveu muitas tragédias, desde políticas; de pobreza; corrupção e as catástrofes naturais. Mas, também houve lindas histórias como a libertação dos escravos anos antes do Brasil e isso à fórceps. Hoje são mais de nove milhões de desvalidos. E quando penso nisso e vejo as pessoas brincando com o nosso terremoto que atingiu três pontos, muito significativos na escala que mede a intensidade dos movimentos tectônicos, fico preocupado. Preocupado porque não temos estrutura para suportar abalos de sete pontos. Nossa engenharia não é projetada para resistir a terremotos, até porque não é caso comum eles acontecerem entre nós e oxalá, nunca aconteçam neste pais tropical, como o Haiti, mas abençoado por Deus, como dizia a canção.
Muitos podem dizer, ah, mas isso é natural do brasileiro, esse humor inato que ri das coisas difíceis e zomba do incompreensível. Tudo bem, mas quando fazemos um comparativo com outras nações sujeitas às intempéries naturais, vemos que elas não são tão sorridentes assim e procuram sempre estar preparadas para os sinistros da natureza, muitos deles provocados pelo próprio homem.
Enfim, desejo que este tipo de acontecimento nunca ocorra nosso Brasil, muito menos no Rio Grande do Norte. Bastam as cheias no Vale do Açu, as enchentes em São Paulo, a seca no nosso amado Nordeste, quando as ajudas demoram a chegar. Estamos vendo a magnitude dos problemas. Que este momento trágico para os nossos irmãos haitianos sirva de reflexão e possam ter algum significado para aqueles que brincaram diante dos acontecimentos da natureza.
O Brasil está fazendo seu papel desde que a ONU entendeu necessário, isto com as heróicas pessoas do Exército, das Polícias Militares, das ONGs e demais entidades brasileiras que há tempos tentam ajudar na reconstrução de uma pátria. Viva Toussaint Louverture, viva o Haiti.